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Aves de Rapina: pouca fidelidade, muita diversão!

Ainda é difícil entender os motivos para a Warner Bros. juntar Arlequina e Aves de Rapina num filme e, principalmente, colocar o nome das Aves primeiro. De qualquer maneira, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa funcionou bem e não será surpresa se em breve a empresa anunciar um filme só com as Aves.

Com um visual bonito e amalucado que se encaixa bem com a mente da Arlequina (Margot Robbie), a produção tem uma clara mensagem feminista, que chega muito perto de exagerar, o que não acontece graças a uma boa escolha de situações. Os cenários onde as personagens estão inseridas, infelizmente, são locais onde realmente o machismo corre solto no mundo real. Não é um exagero de situações como no filme do Coringa, por exemplo, onde o protagonista é humilhado em qualquer lugar que esteja, algumas vezes até sem contexto, de maneira repetitiva.

Arlequina, claro, é a protagonista e fio narrativo. A maior parte do que vemos na tela é através de seu ponto de vista deturpado e divertido ao mesmo tempo. Robbie, que também foi produtora do filme, manda bem, dando mais identidade a uma personagem que precisava desesperadamente disso, afinal era apenas a namoradinha do Coringa com boas deixas para piadas em Esquadrão Suicida. O melhor é que Arlequina é usada de acordo com a essência da personagem: simpática ao público e até com personagens que ajuda, mas não necessariamente uma das mocinhas. Ela continua maluca e nem sempre suas ações são bondosas, sempre indo e vindo na fronteira das boas e más intenções.

As demais Aves, obviamente, têm menos espaço, mas, em sua maioria, são bem apresentadas. A esquentada Renee Montoya (Rosie Perez) é o lado da lei na trama, a que mais tenta fazer o que é certo, o que é difícil em quase qualquer versão de Gotham City. Ser certo, ali, destoa tanto, que Montoya é utilizada também como fonte de piadas com filmes policiais dos anos 1980. E funciona.

A Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) é bem diferente das versões dos quadrinhos, se aproximando um pouco mais da reformulação recente que transformou a heroína em cantora. Ainda assim, continua sendo badass e apresenta um background que pode ser mais bem explorado em outras produções. Esperamos que sim, pois nos deixaram curiosos.

Menos desenvolvida é a Caçadora (Mary Elizabeth Winstead). Além de ter menos tempo de cena, a personagem foge um pouco de suas premissas das HQs, o que chega sim a incomodar, mas se encaixa no enredo. Embora seja apresentada de maneira fatal, serve mais para as piadas sobre seu jeito calado e mortal, parecendo uma versão feminina de brucutus ao estilo Stallone oitentistas. Contudo, mais uma vez, isso funciona dentro do universo do filme, pois Winstead consegue entrar no clima.

O grande problema é Cassandra Cain (Ella Jay Basco). Uma ladra de rua com pouco carisma, quando sua versão original é uma das maiores lutadoras do Universo DC, filha de dois dos maiores assassinos do mundo e praticamente muda, pois foi ensinada a se comunicar através das artes marciais. Para dizer a verdade, no filme ela é uma personagem genérica, que poderia ser totalmente original, ter qualquer nome, e isso faria muito mais sentido. Ou então poderia ser Holly Robinson, uma associada da Mulher-Gato que começou, justamente, como ladra de rua. Uma tremenda bola fora do longa.

Do lado dos vilões, temos o Máscara Negra (Ewan McGregor) e Victor Zsazs (Chris Messina), uma união óbvia, mas que demorou anos para ser realizada. Óbvia, pois os personagens combinam muito, com seus sadismos se complementando. Zsazs acaba não sendo bem desenvolvido (parece uma maldição do personagem em qualquer adaptação), mas McGregor está ótimo como Máscara Negra, cheio de trejeitos e exageros que combinam demais com um personagem tão narcisista e egocêntrico.

Incomoda as Aves de Rapina não serem de fato heroínas, faltando a alma da equipe (também conhecida como Bárbara Gordon)? Incomoda. Mas o filme consegue trabalhar com a nova proposta e deixa em aberto um melhor desenvolvimento. O roteiro é ruim? Não, é algo diferente. Ele é simplista, e isso é mais acerto do que erro. Arlequina é uma personagem mais usada em tramas simples, não muito diferente do Deadpool da Marvel. Ela acaba funcionando melhor assim. E, convenhamos, não seria exagero dizer que PELO MENOS 97% dos filmes não de super-heróis, mas de ação em geral, sempre apresentam roteiros bem simples, mas que funcionam para a história que querem apresentar. E esse é o caso de Aves de Rapina. Nada de memorável, não muito inovador, mas extremamente funcional e divertido. E quase ia esquecendo: com uma ótima trilha sonora!

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