Lightyear: um aventurão que incomodou!
Vivemos numa época de fandoms alucinados pelas redes sociais. As empresas devem achar isso maravilhoso, pois contam assim com um público cativo que faz muito barulho com a mínima migalha de informação. Porém, às vezes o tiro sai pela culatra, principalmente quando esse fandom cria expectativas totalmente desconectadas da realidade. É o que aconteceu com a animação Lightyear.
Desde o início anunciado como um produto totalmente independente da franquia Toy Story ou até mesmo da série animada de Buzz Lightyear, o filme sofreu com essas expectativas criadas por fãs que optaram por ignorar a realidade, pois nada no projeto apoiava suas teorias ou esperanças. Lightyear é o filme dentro do filme, sendo a história fictícia do astronauta que inspirou o brinquedo visto em Toy Story. O ritmo é outro, o estilo de animação é outro, os dubladores são outros. É algo quase sem conexões com o que veio antes, e isso é ótimo.
A trama mostra Buzz Lightyear como um astronauta audacioso, mas não infalível como sua versão em brinquedo parecia ser. Pelo contrário, este Lightyear erra bastante, é um tanto cabeça dura, e demora um pouco para aprender com seus erros. E isso torna o longa bem interessante, além de um divertido elenco de apoio, com destaque para um certo gatinho. A animação tem um ritmo diferente do comum para um filme da Pixar. É muito mais aventura do que a média. O desenvolvimento do personagem titular ainda está ali, mas divide bem o espaço com belos visuais de ficção científica e uma ou duas surpresas que brincam justamente com as expectativas irreais dos fãs.
O longa rendeu algumas polêmicas. A primeira, um efeito colateral das tais expectativas. Enquanto em Toy Story Buzz tinha a voz de Tim Allen, aqui ele é dublado por Chris Evans. Uma parte barulhenta dos fãs simplesmente não aceitou que não se trata do mesmo personagem, o que justifica a mudança no ator. E isso se refletiu no Brasil, onde Marcos Mion fez a voz de Buzz, ao invés de Guilherme Briggs. Mesmo com o próprio Briggs explicando a diferença, teve gente que não entendeu. Mas, quer saber? Mion fez um bom trabalho e, vale lembrar, não foi mais um caso de uma celebridade fingindo que é dublador. Mion, ainda que mais conhecido como apresentador, também é ator.
O filme ainda apresenta o primeiro beijo homossexual numa animação da Disney. Um selinho que quase perdemos se piscarmos. Mas a onda tradicionalista e preconceituosa que toma o mundo fez o barulho de sempre. Resultado: o filme foi proibido em alguns países e, pior, a cena vem sendo cortada sem o consentimento da Disney em algumas exibições, incluindo no Brasil.
Lightyear é um filme espetacular? Não, longe disso. Trata-se de uma aventurão com bom ritmo, coadjuvantes cativantes, uma diversão leve e descompromissada, mas nada fora do comum. Porém, ouvir tantas críticas de gente ignorante, que nem mesmo se deu ao trabalho de assistir ao desenho, e que de fato está apenas infantilmente reclamando que as coisas não são exatamente do jeito que desejavam ou são simplesmente preconceituosas, faz com que simpatizemos mais com um filme que está sendo prejudicado por motivos totalmente alheios a sua qualidade.
Se eu for ver o filme e tiver sido cortado vou reclamar.
Com toda a razão!
Assisti com a minha filha (7 anos). Ela adorou! Concordo que está longe de ser um “Os Incríveis” ou mesmo “Toy Story”, mas é um filme bom sim. Acredito sim que possa ter sido o filme favorito do Andy em 1995.
Sobre a dublagem, nem notei que era o Marcos Mion (não fosse a divulgação, provavelmente não perceberia); algo impossível com Luciano Huck em “Enrolados”.
Sobre a tal polêmica: tem que ter a mente muito obscura e o coração muito preconceituoso para criar caso com o filme.