Holy Spider: o horror do fanatismo!
Entre 2000 e 2001 o veterano de guerra iraniano Saeed Hanaei, ou Assassino Aranha, como ficou conhecido, assassinou 16 prostitutas. Muitas pessoas de sua comunidade o consideraram um herói e não um serial killer. O caso teve forte impacto no cineasta Ali Abbasi, que desde 2002 trabalhou num roteiro baseado na história real. Foi só em 2022 que Holy Spider chegou aos cinemas, com direção de Abbasi e roteiro feito a quatro mãos com Afshin Kamran Bahrami.
Toda a trama se passa na cidade sagrada de Mashhad, sendo apresentada através de dois pontos de vista. A jornalista Arezoo Rahimi (interpretada por Zar Amir Ebrahimi) investiga os assassinatos, inconformada com a passividade da polícia local. Através de sua personagem, testemunhamos as dificuldades das prostitutas que são vítimas do assassino e as muitas privações que as mulheres sofrem por conta da religião, inclusive a própria jornalista, que tem dificuldade até para conseguir um simples quarto de hotel.
Mehdi Bajestani vive o assassino Saeed Hanaei, cuja jornada faz com que o filme tenha dois momentos bem diferentes. Na primeira metade, vemos o pai de família amoroso e carinhoso que é também um homem perturbado, um assassino que vira e mexe perde o controle com a família e que é considerado estranho por todos à sua volta. Neste ponto, o longa é apenas funcional como mais um filme de serial killer. É quando a trama deixa de ser um thriller investigativo e passa aos tribunais e reações da sociedade que tudo fica realmente interessante. O fanatismo religioso se torna o tema, com personagens que antes desconfiavam de Hanaei imediatamente mudando o ponto de vista para o apoiar em sua cruzada santa. O horror dos assassinatos se torna irrelevante diante da terrível cegueira extremista. E é neste momento que a produção chega a ser perturbada de tão realista. Em meio a grandes interpretações, a única coisa que incomoda é como o título Holy Spider parece não ter razção de ser, já que o apelido Assassino Aranha passa quase despercebido durante a exibição. O nome foi dado pelos jornais locais porque o assassino levava as prostitutas até sua casa para matá-las, tal qual uma aranha mata suas vítimas em sua teia.
É sempre agradável ver um bom filme falado em outra língua que não o inglês (no caso, o persa) ganhar algum espaço nos cinemas brasileiros. Faltou um pouco de divulgação e até se aproveitar do fato de Abbasi ter dirigido dois episódios da série do momento, The Last of Us. Seja como for, Holy Spider vale a ida ao cinemas, desde que você esteja com a cabeça em ordem para encarar um enredo que afeta o psicológico.