Barbie: diversão, reflexão e muita loucura!
Não é comum assistir a um filme que te arranca gargalhadas ao mesmo tempo que provoca reflexões relevantes. Mas é exatamente isso que Barbie faz ao mostrar a famosa boneca passar por uma crise existencial e sair de seu mundinho perfeito para encarar o complicado e decepcionante mundo real.
O grande trunfo do longa metragem é a diretora Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres), que também escreveu o roteiro, ao lado de Noah Baumbach (História de um Casamento). O casal consegue equilibrar humor com críticas certeiras, criando algo que só pode ser definido como uma deliciosa loucura. Mas não é possível menosprezar a escolha de elenco. Margot Robbie foi a escolha perfeita para o papel de Barbie, afinal tem todos os elementos (para o bem e para o mal) da protagonista e é sim, um ótima atriz. Ela consegue nos convencer da evolução de Barbie durante toda a produção.
Ryan Gosling também está muito bem como Ken, alternando momentos em que temos genuína pena do patético personagem, com outros em que ele reflete tudo o que há de errado com os nerdolas que estão extremamente ultrajados com o filme. Diga-se de passagem, a recepção de tais imbecis torna Barbie ainda mais divertido. A burrice, machismo e escrotidão sem fim desse tipo de gente sempre afeta produções estreladas por mulhares, só que desta vez tudo está mais vergonhoso, pois já na divulgação, Barbie se tornou um grande hit. Ver críticas usando o idiota termo lacração dezenas de vezes, apontando feminismo como um defeito e afirmando que o filme é “anti-homem” faz com que tudo isso pareça uma extensão da própria obra, continuando os apontamentos de tais atitudes feitos no filme. É um intricado mecanismo de passar vergonha se retroalimentando.
Falando em feminismo, a maneira como o roteiro critica o falso feminismo das empresas e grandes marcas é excepcional. A linha Barbie foi totalmente erguida sobre esse conceito, pegando pautas reais e importantes e as distorcendo e sugando o máximo possível para fazer dinheiro, se tornando uma ofensa aos ideais feministas. A autocritica é muito presente e bem desenvolvida, mas ainda deixa espaço para um humor no mesmo nível de qualidade, se aproveitando também destes pontos.
A estética da obra também merece elogios. Não é só o fato de nunca termos visto tanto rosa junto na vida que chama a atenção. As saídas criativas para reproduzir os brinquedos clássicos (com o resgate de alguns bastante obscuros) foram eficientes, criando um universo com identidade ímpar. As limitações e comparativos com a realidade são responsáveis por muito do humor na produção.
Deixando um rastro de egos frágeis destroçados, Barbie tem tudo para ser um grande sucesso com sua fórmula inusitada. E, não, não se trata de um filme infantil. Muito longe disso. E qualquer pessoa com meio neurônio entende isso ao ver qualquer trailer da produção. E mesmo tendo acompanhado toda a campanha de marketing, devo dizer que o resultado final foi por um caminho ainda mais criativo, positivamente surpreendente.
Confesso que eu não estava muito interessado no filme. Minha filha (8 anos) está de férias e o avô levou-a para assistir logo na estreia. Mesmo não sendo um filme infantil ela adorou ver a amada boneca “em vida real”, como ela diz.
Não sei se vou ver no cinema ($) mas com certeza vou conferir no streaming, as críticas (sérias) em geral tem sido positivas. Ignoro o povo que fala em “lacração” (mesmo pessoal que detestou o ótimo desenho dos Mestres do Universo na Netflix por causa do protagonismo da Teela).
Só fui perceber o quão nocivo pode ser este nosso ambiente nerd depois que fiquei pai de uma menina e passei a ter preocupação com o conteúdo por ela consumido. No que depender de mim, nerdola não se cria!