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Coringa 2: um filme para desagradar a todos!

Em primeiro lugar: não odeio o primeiro filme do Coringa, mas confesso que gosto um pouco menos a cada nova análise. Ele é um filme até ok, mas extremamente problemático na mensagem distorcida que passa e, pior, muito, mas muito pretencioso. Ao usar um personagem de quadrinhos e parecer envergonhado disso, tentando se vender como um filme complexo e original de arte (não sendo nada disso), evitando produtos derivados (bonecos e afins) para se provar “adulto”, só conseguiu frisar o ego dos envolvidos e abraçar um público composto por pessoas facilmente manipuladas, que compraram toda a estrutura maquiada da produção. Sim, estou falando de incels e nerdolas que abraçaram esse pseudo Coringa como um herói. E sim, estou bem ciente que existem outras pessoas que gostaram do filme sem se encaixaram nesses grupos, mas são justamente esses grupos que fizeram o barulho que ajudou Coringa a ser um enorme sucesso.

Agora, com Coringa: Delírio a Dois, esse mesmo público se sente traído e enganado, porque o novo filme destrói boa parte dessa atmosfera ilusória de filme extremamente sério e dramático, jogando fora a figura nada original de seu Coringa, reconhecendo a condição patética que representa muito bem o público que se identificou tanto com ele. Analisando friamente: o longa, em muitos aspectos, parece mesmo um pedido de desculpas quanto aos pontos problemáticos do primeiro. Mas isso, e quase todo o resto, é tremendamente malfeito. Enquanto o diretor Todd Phillips defendia sua visão quando do lançamento do primeiro Coringa, aqui ele parece ir pelo caminho contrário, tarde demais. O resultado é uma produção que não agrada nem quem gostou do primeiro nem quem o odiou. Delírio a Dois é chato, um tanto enganoso, enfadonho, repetitivo e sem razão de ser.

A direção tomada pelo diretor parece ser apenas um epílogo do anterior e, por isso mesmo, o que se estica por quase duas horas e vinte minutos, poderia ter sido resolvido facilmente em poucos minutos a mais no final do original, apenas por não glorificar um psicopata. Delírio a Dois acaba sendo pura enrolação. Não tem conteúdo nem para meia hora de exibição, passando o restante ou se contradizendo ou se repedindo. Não parece um filme, mas uma colcha de retalhos sem sentido.

Sobre o fato de ser enganoso. Ponto um: Phillips e o astro Joaquin Phoenix, num primeiro e breve momento, afirmaram não pensar em uma continuação, rapidamente mudando o discurso quando o longa estreou de forma muito lucrativa, passando a dizer que já pensavam numa sequência já durante as gravações. Para algo planejado por tanto tempo, o resultado chega a ser vergonhoso. Falando em vergonha, assim como tem vergonha de ser baseado em HQs, o novo filme também tem vergonha de ser um musical. O fato foi divulgado como seu diferencial, mas muita gente torceu o nariz, então o discurso passou a ser de que o filme era um “drama com interlúdios musicais, algo diferente de qualquer musical já feito”. A diferença é a qualidade. As músicas são boas, os números em si muito bonitos visual e sonoramente e, sem nenhuma surpresa, Lady Gaga manda muito bem enquanto cantora. O problema é o ritmo. Phillips falhou miseravelmente na inserção dos números musicais, que destoam de todo o resto, quebram o ritmo e quase sempre só repetem as mesmas informações que acabaram de ser apresentadas em diálogos “normais”. Para quem lê quadrinhos, parece um gibi antigo de Chris Claremont onde a narração e os diálogos dizem a mesma coisa com pouca mudança de tom.

O subtítulo e a escolha de uma estrela como Lady Gaga no papel de Arlequina (que, assim como o Coringa, é sem ser) apontavam para um coprotagonismo que não existe no produto final. A própria campanha de divulgação deixou claro que a aposta era muito mais em Gaga do que na figura do Coringa. Apesar de mandar bem demais no lado musical, ela é desperdiçada como atriz, sendo relegada a uma personagem de pouco peso, cuja importância poderia ser resumida em duas cenas nas quais ela influencia as decisões de Arthur Fleck. Pegaram uma figura e uma personagem famosas para atrair seus fãs, mas usaram ambas do modo mais genérico e sem sal possível.

Apesar de seus muitos problemas, o primeiro Coringa ainda tinha alguma alma. Já Delírio a Dois só consegue ser competente nos aspectos técnicos, como fotografia, maquiagem, efeitos sonoros e correlatos. Nas atuações, nem mesmo Phoenix, que foi incrível no primeiro filme, se sobressai, salvo numa pequena parte do ato final. Novamente: o fiapo de trama, de desenvolvimento, não preenche nem um quarto da duração do filme. Tudo é vazio e sem identidade.

Mas a pior parte provavelmente é o clímax, se é que podemos chamar assim um final tão aberto, que não diz nada, mas soa como algo planejado para ressoar na internet. Algo sem peso ou sentido, ao ponto de tirar todo seu impacto. Parece mesmo uma cena inteiramente estruturada para alimentar teorias malucas dos fãs, teorias que podem posteriormente ser usadas para alimentar o ego do diretor, se achando um gênio por ter pensado nisso.

Fazia muito tempo que eu não saia de uma exibição para imprensa onde praticamente todos odiaram o filme. Quem diria, Coringa: Delírio a Dois, afinal, conseguiu ser bem-sucedido em algo…

Confira também a resenha em vídeo de Roberto Segundo:

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