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Os Fabelmans: as origens de Spielberg!

Foram poucas as vezes que Steven Spielberg se envolveu com o roteiro de uma produção sua. A última vez que isso aconteceu foi em Inteligência Artificial, lá em 2001. Isso mudou com Os Fabelmans, o projeto mais pessoal de sua carreira, um longa que ele planejava desde 1999. Baseado na sua infância e adolescência, o projeto originalmente teve roteiro de sua irmã Anne, mas Spielberg acabou engavetando a ideia por acreditar que explorar antigos conflitos familiares poderia machucar seus pais. Sua mãe, Leah Adler, faleceu em 2017, com o pai, Arnold Spielberg, morrendo em 2020. Mas, já em 2019, Steven pareceu achar que era hora de enfrentar esse desafio, começando a desenvolver um novo roteiro com Tony Kushner (de Amor, Sublime Amor).

Dedicado a seus pais, Os Fabelmans é um dos melhores filmes de Steven Spielberg em sua fase atual, mais afastado dos grandes blockbusters e não tão badalado. A carga emocional pra lá de pessoal faz toda a diferença e logo entendemos por que ele teve medo de machucar os pais. Com nomes alterados, os Spielbergs, digo, os Fabelmans, têm uma existência que, mesmo feliz, é carregada de dramas e conflitos que dialogam perfeitamente com o espectador, pois são apresentados de maneira extremamente crível. A escolha de Michelle Williams e Paul Dano como os pais foi um acerto fenomenal. Ambos os atores nos envolvem com suas interpretações, criando empatia imediata a tal ponto que, mesmo quando vivenciamos os erros cometidos por cada um, sentimos suas dores e entendemos suas motivações.

Gabriel LaBelle, que talvez você se lembre do péssimo O Predador de 2018, vive Sammy Fabelman, o “avatar” de Steven Spielberg. Além de uma semelhança impressionante e de conseguir reproduzir até a linguagem corporal de Steven, o jovem ator entrega uma bela performance, enriquecida por um roteiro e direção que intermediam momentos dramáticos com outros de pura ternura, além de comédia e referências que agradam os fãs da carreira de Spielberg.

Apesar de ser muito alardeado como um filme sobre a paixão de Spielberg pelo cinema, Os Fabelmans não é bem isso, ou pelo menos, não apenas isso. É claro que contar as origens do cara que por muito tempo foi considerado o maior cineasta em atividade envolve mostrar seus primeiros contatos com o cinema, como começou ainda amador, suas influências. Mas o longa vai bem além, equilibrando muito bem a família, o primeiro (e inusitado) amor e as frustrações de quem quer alcançar algo e ainda não sabe que caminho percorrer para isso. É a história padrão das descobertas da adolescência, mas com o cinema de fundo e através de uma lente de normalidade.

Divertido e envolvente, Os Fabelmans traz de volta a humanidade que a última década e meia de carreira do cineasta por vezes deixou de lado. Suas duas horas e meia de duração passam muito rápido. Ao fim, ficamos com o desejo de ver mais da história daquele carismático jovem adulto. E talvez esse seja o grande defeito do filme: não ser uma série para explorar ainda mais a história de Steven Spielberg.

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